opinião

Cidade universitária: o desafio de acolher



Os últimos censos acerca da Educação Superior no Brasil, do Ministério da Educação, apontaram uma queda no número de ingressantes nas universidades. No entanto, permanecemos com o título de "cidade universitária". São oito instituições de Ensino Superior instaladas em nosso município, acolhendo, anualmente, milhares de estudantes, advindos de todos os cantos do país. São jovens que aqui residem por um período muito marcante de suas vidas. Certamente levarão lembranças dos amigos, professores, amores, festas e dos bons momentos vividos.

Imaginamos que até chegarem aqui, criaram expectativas acerca do contexto universitário e levaram algum tempo decidindo sua trajetória, com o objetivo de obterem sucesso profissional em um futuro breve. Podemos então acreditar que os novatos que circulam nesse cenário procuram uma atmosfera acolhedora e receptiva. Entretanto, muitas vezes se deparam com recepções regadas a preconceitos velados como "piadas".

Os "trotes" que eram agressivos, agora são chamados de acolhimento, não sem uma razão: para apagar o antigo estigma de agressões e abusos que eram realizados. Entretanto, ainda se vê comportamentos que, no mínimo, assustam. A cultura de sair em grupos desfilando pelas ruas da cidade "cantando versinhos" ofensivos contra estudantes, das outras universidades tornaram-se marca registrada, trazendo uma naturalização e aceitação das provocações. Encerram essa cena ao cair da tarde, no centro da cidade, com muita bebida e, não raras vezes, protagonizando cenas de violência, inclusive, física.

Questiono-me se não está na hora de repensarmos os "trotes" que acontecem também nas ruas das cidades e não apenas dentro dos espaços universitários. Alguns estudantes, infelizmente, apenas trocaram de espaço, mas esqueceram de levar junto o respeito com os outros. Para ter uma acolhida agradável, não são necessárias humilhações (como muitos acreditam).

Devo pensar que esse universitário, que se considera melhor do que outro pela escolha do curso ou mesmo de Instituição de Ensino Superior, poderá reproduzir um comportamento prepotente na sua carreira futuramente.

Portanto, é importante que nós, professores, tenhamos um olhar ampliado sobre nossos estudantes, na tentativa de compreender como ele se relaciona com o mundo, seja por ter vindo de ambiente de violência e/ou acúmulo de preconceitos. Não basta teorizarmos em sala de aula se os discentes sequer respeitam as diferenças existentes entre eles.

Essas condutas podem, inclusive, estender-se às salas de aula, onde os futuros "doutores", confrontam, de maneira não muito educada, os seus mestres. Lembro que somos educadores que lutamos para trazer ao cenário do ensino metodologias ativas, que visam proporcionar profissionais capazes de serem autônomos e responsáveis pelos seus atos.

Apesar de admirarmos a nova geração lidar muito bem com as novas tecnologias, lembramos que nenhuma inovação vai superar as regras básicas de educação. Pais, mães, tios, tias, padrinhos, madrinhas e avós podem e devem ser participativos nesse processo.

O espaço da universidade, além de formar profissionais, é também o de formar pessoas e cidadãos. Para tanto, é importante uma relação humanizada e democrática entre todos os envolvidos. O diálogo e a amorosidade são fundamentais nesse processo. Apesar dos pesares, continuo, como diria o saudoso Gonzaguinha, "acreditando na rapaziada, colocando fé na fé da moçada, indo à luta com essa juventude que constrói a manhã desejada".

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